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desafie esse tipo de caracterizao , nada resta seno cair no contedo ideacional
que, de forma mais imediata, est associado ao sentimento. Se compreendi
corretamente o meu amigo, ele quer significar, com esse sentimento, a mesma coisa
que o consolo oferecido por um dramaturgo original e um tanto excntrico ao seu
herói que enfrenta uma morte auto infligida: No podemos pular para fora deste
mundo . Isso equivale a dizer que se trata do sentimento de um vnculo indissolvel,
de ser uno com o mundo externo como um todo. Posso observar que, para mim, isto
parece, antes, algo da natureza de uma percepo intelectual, que na verdade pode
vir acompanhada de um tom de sentimento, embora apenas da forma como este se
acharia presente em qualquer outro ato de pensamento de igual alcance. Segundo
minha própria experincia, no consegui convencer-me da natureza primria desse
sentimento; isso, porm, no me d o direito de negar que ele de fato ocorra em
outras pessoas. A nica questo consiste em verificar se est sendo corretamente
interpretado e se deve ser encarado como a fons et origo de toda a necessidade de
religio.
Nada tenho a sugerir que possa exercer influncia decisiva na soluo
desse problema. A idia de os homens receberem uma indicao de sua vinculao
com o mundo que o cerca por meio de um sentimento imediato que, desde o incio,
dirigido para esse fim, soa de modo to estranho e se ajusta to mal ao contexto de
nossa psicologia, que se torna justificvel a tentativa de descobrir uma explicao
psicanaltica isto , gentica para esse sentimento.
... No consigo pensar em nenhuma necessidade da infncia to intensa
quanto a da proteo de um pai. Dessa maneira, o papel desempenhado
pelosentimento ocenico, que poderia buscar algo como a restaurao do
narcisismo ilimitado, deslocado de um lugar em primeiro plano. A origem da atitude
religiosa pode ser remontada, em linhas muito claras, at o sentimento de
desamparo infantil. Pode haver algo mais por trs disso, mas, presentemente ainda
est envolto em obscuridade.
Posso imaginar que o sentimento ocenico se tenha vinculado religio
posteriormente. A unidade com o universo , que constitui seu contedo ideacional,
soa como uma primeira tentativa de consolao religiosa, como se configurasse uma
outra maneira de rejeitar o perigo que o ego reconhece a amea-lo a partir do
mundo externo. Permitam-me admitir mais uma vez que para mim muito difcil
trabalhar com essas quantidades quase intangveis. Outro amigo meu, cuja
insacivel vontade de saber o levou a realizar as experincias mais inusitadas,
acabando por lhe dar um conhecimento enciclopdico, assegurou-me que, atravs
das prticas de ioga, pelo afastamento do mundo, pela fixao da ateno nas
funes corporais e por mtodos peculiares de respirao, uma pessoa pode de fato
evocar em si mesma novas sensaoes e cenestesias, consideradas estas como
regressóes a estados primordiais da mente que h muito tempo foram recobertos.
Ele v nesses estados uma base, por assim dizer fisiológica, de grande parte da
sabedoria do misticismo. No seria difcil descobrir aqui vinculaes com certo
nmero de obscuras modificaes da vida mental, tais como os transes e os
xtases. Contudo, sou levado a exclamar, como nas palavras do mergulhador de
Schiller:
...Es freue e sich,
Wer da atmet im rosigten Licht!
[Regozije-se aquele que aqui em cima respira, na rósea luz! Schiller, Der
Taucher.]
Sigmund Freud, O Mal-Estar na Civilizao in Freud,
coleo Os Pensadores, Abril Cultural, So Paulo, 1978, pp. 131-132, 137-138.
CHEFE SIOUX CERVO NEGRO
Ento eu estava de p na montanha mais alta, e abaixo de mim, ao meu
redor, encontrava-se o arco completo do mundo. E enquanto eu pernanecia l, de
p, vi mais do que sou capaz de dizer e compreendi mais do que vi; pois eu via de
maneira sagrada as formas de todas as coisas no Esprito e a forma de todas as
formas tais como elas devem viver juntas como um nico ser.
E eu vi que o arco sagrado de meu povo era um dos numerosos arcos que
formavam um crculo, to amplo quanto a luz do dia e a luz das estrelas, e em seu
centro crescia uma poderosa rvore florida para abrigar todas as crianas de uma só
me e de um só pai. E vi que isso era sagrado.
Ento, enquanto estava l de p, dois homens chegavam do leste, a cabea
frente como flechas em pleno vo, e entre eles surgiu a estrela da amora.
Aproximaram-se, deram-me uma erva e declamam: Com isto sobre a terra voc
poder incumbir-se de qualquer coisa e realiz-la . Era a erva da estrela da aurora, a
erva da compreenso, e eles me pediram que a deixasse cair sobre a terra. Eu a vi
cair e quando ela atingiu o soto criou razes, cresceu e floresceu, quatro flores em
um caule, uma azul, uma branca, uma escarlate e uma amarela, e os raios que
originavam espalharam-se em direo aos cus de tal fonna que todas as criaturas
os viram e em lugar algum havia escurido.
Jos e Miriam Argelles, Mandala,
Shambhala Berkeley e Londres, 1972, p. 114.
ARNAUD DESJARDINS
O que se passou naquela manh e na manh seguinte foi alm daquilo que
se pode esperar ou supor da lenda misteriosa e fascinante que sempre, mais ou
menos, cercou os lamas tibetanos. Cruzando uma pequena varanda de madeira que
circundava uma casa bastante modesta, penetramos em um aposento quase escuro
e sentamo nos de frente para o leito coberto de tapetes que se encontra em todos os
quartos de todos os rinpochs [mestres realizados]. Na penumbra, eu distinguia a
forma de um homem sentado, imóvel, que emanava uma luminosidade, como uma
espcie de vaga fosforescncia, e cujos olhos pareciam luminosos na
penumbra.Volltei-me para Sonam, cuja posio, menos afastada da pequena porta,
tornava o um pouco mais ntido. Ele olhava para o lama, mas seus olhos no tinham
nenhum brilho particular. Virei-me ento para Kangyur Rinpoch e tornei a ver
aquela mesma luminosidade e sobretudo seus olhos, que pareciam estar acesos no
escuro. Ele me fitava e senti nascer em mim, e depois crescer, uma emoo
excepcional, indescritvel. Pude apenas perceber que Sonam deixava o aposento e
depois tive a impresso de que nada mais no mundo existia alm dessa presena na
sombra e eu mesmo. A intensificao e a acelerao de minha vida psquica,
pensamentos e sentimentos, transcendiam toda experincia descritvel. Todas as
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